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Artigo: Economia Circular na Indústria da Cerâmica - Blog Técnico+

Written by Ana Carvalho | Jun 29, 2021 9:58:25 AM
Marta Brazão

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pelas Nações Unidas estabeleceram metas a alcançar até 2030, que direcionam qualquer tipo de organização a posicionar-se no sentido de desenvolver e implementar ações mais sustentáveis, para se manterem competitivas, para darem resposta à procura dos seus clientes e cumprirem com a nova legislação europeia.  Desta forma, o conceito de economia circular aparece como um fator chave no alcance dessas metas, permitindo ter uma visão sistémica dos problemas e encontrar soluções sustentáveis que permitem a diminuição da extração e utilização de materiais e a recuperação dos materiais em fim de vida, valorizando os desperdícios e criando novos modelos de negócio.

A aplicação do conceito de economia circular e o seu impacto positivo não é exceção na indústria da cerâmica. É importante mencionar que a indústria cerâmica tem uma enorme relevância para a economia europeia (€ 28 mil milhões de valor da produção; 200.000 empregos diretos; € 4,6 mil milhões de saldo comercial positivo; 80% das PME), sendo um setor tecnológico líder [1]. Em Portugal a indústria de cerâmica é um setor de elevada tradição, satisfazendo as necessidades do setor da construção enquanto produtora de tijolos, telhas, soluções de pavimentação, revestimentos, louça sanitária e utensílios cerâmicos [2].

Contudo tal como em toda a Europa, a cadeia de valor da Indústria Cerâmica, ao longo do ciclo de vida do produto acarreta desperdícios. Durante a produção de cerâmica cerca de 30% do material é descartado como indiferenciado, não tendo uma valorização [3]. Este facto atesta a necessidade de explorar novas metodologias que permitam o diagnóstico das atividades ao longo do ciclo de vida do produto e formas inovadoras de valorização de resíduos cerâmicos.

O Instituto Superior Técnico, através do TÉCNICO+ (escola de formação avançada pós-graduada e profissional), apresenta o curso: Economia Circular – Metodologias para a Transição nas Empresas. Este curso visa dotar os seus formandos de conhecimentos sobre o conceito de economia circular numa ótica de análise de ciclo de vida (ACV). O curso abrange conceitos introdutórios de Economia Circular, capacitando os seus formandos no diagnóstico de sistemas, criação de soluções, avaliação da circularidade e comunicação de ações de economia circular inseridas no contexto dos ODS. O modelo de Economia Circular pretende desencadear uma mudança sistemática para a construção de um sistema mais resiliente a longo prazo, abrindo novas oportunidades de negócio e providenciando benefícios ambientais e sociais [4]. Baseia-se em três princípios [4]:

i) acabar com o desperdício e com a poluição;

ii) manter produtos e materiais em uso; e

iii) regenerar os sistemas naturais.

Para tal, estabelece a divisão dos processos, ou ciclos, em dois: o biológico e o técnico. No primeiro caso, os “nutrientes” biológicos consistem num produto que é desenhado para retornar ao ciclo biológico. Por sua vez, o ciclo técnico (mais aplicado à indústria cerâmica) refere-se aos processos que recuperam e restauram produtos e materiais, através de estratégias como a reutilização, reparação, remanufatura e (por último) a reciclagem [5].

O diagrama sistémico – mais conhecido como diagrama da borboleta (Figura 1) – expõe graficamente, e de forma simplificada, os dois ciclos referidos e os processos que compõem cada um deles.

 

Figura 1: Diagrama da Borboleta [6])

Da aplicação, confluência e gestão de todos estes processos, a economia circular permite alcançar um equilíbrio entre as necessidades e atividades humanas e os recursos (finitos) disponíveis, mas que são constantemente regenerados e reintroduzidos no sistema. A Economia Circular está intimamente ligada à Análise de Ciclo de Vida (ACV), onde os impactes ambientais dos produtos são analisados ao longo do seu ciclo de vida (desde a extração à sua utilização). Com a aplicação de software de ACV os formandos serão capazes de analisar problemas complexos e sistémicos, identificando oportunidades de melhoria, de modo a propor soluções práticas de economia circular adequadas ao contexto das suas organizações e minimizando os seus impactos ao longo de todo o ciclo de vida.

A Cerame-Unie, representante da indústria cerâmica na Europa, enfatiza que a eficiência de recursos requer uma abordagem de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), que tenha em consideração todas as fases do produto, incluindo a sua durabilidade, tempo de vida útil e redução do consumo de recursos durante a fase de uso [7], conteúdos esses que serão abordados no curso do TÉCNICO+.

Verifica-se que a indústria da cerâmica enfrenta três grandes desafios:

i) pensar e integrar os princípios da economia circular, sobretudo o ecodesign;

ii) aplicar processos inovadores no processo produtivo e conseguir valorizar os resíduos/subprodutos;

iii) implementar estratégias de economia circular, nomeadamente simbiose industrial.

No entanto, existem empresas que demonstram que é possível utilizar a economia circular e transformar os desafios em novas oportunidades e modelos de negócio  [8]. A Revigrés [9] apresenta um vasto leque de boas práticas promotoras da economia circular: valorização de 98% dos resíduos do processo produtivo, incorporados novamente como matéria-prima; privilegiar o EcoDesign diminuindo os impactes ambientais; total reutilização das águas residuais industriais; utilização de matérias-primas inertes para que haja uma diminuição da produção de resíduos perigosos. Estas ações foram incorporadas, por exemplo, na coleção Revicomfort (Figura 2) que consiste num pavimento em grés porcelânico que é amovível e reutilizável pois não requer a utilização de cimento cola ou de betume; assim, quando for necessário, pode ser substituído sem ser danificado e assim, prolonga-se o tempo de vida útil do produto [9].

Figura 2: Coleção Revicomfort [9]

Outro exemplo relevante nesta área consiste no caso da Águas do Douro e Paiva [10]. Na produção de água para consumo humano, são gerados resíduos como as lamas de clarificação depositadas em aterro. Essas lamas podem ser incorporadas como matéria-prima no fabrico de telhas cerâmicas, alcançando um sistema de simbiose industrial (o resíduo de uma indústria é um recurso para outra). Apesar das dificuldades ao nível da operacionalização e da logística, esta já possibilitou a valorização da totalidade destes resíduos (provenientes da ETA de Lever) em novos produtos cerâmicos e permitiu uma diminuição de custos na gestão de resíduos em mais de 500.000€ [10]. A empresa de cerâmica STEINZEUG-KERAMO encontra-se neste momento a produzir tubos de argila que são 100% recicláveis e que são produzidos com 40% de matérias-primas recicladas (próprios desperdícios, mosaicos para chão, pó de pedra) tendo um tempo de vida de mais de 100 anos [1].

Novas abordagens, metodologias e modelos de negócio serão abordados neste curso. Estes e outros exemplos serão apresentados, mostrando a aplicação do conceito de economia circular na indústria da cerâmica. Saiba mais sobre este curso que pode transformar o seu negócio, num negócio sustentável e de vanguarda!

Contamos consigo!

[1] Koch, G. (2020) Circular Economy – The contribution of the ceramic industry, Cerame-Unie

[2] PWC (2016) Capacitação da indústria da Cerâmica Portuguesa Um cluster, uma estratégia, mercados prioritários

[3] Zimbili O., Salim, W. Ndambuki M. (2014) A review on the usage of ceramic wastes in concrete production, Int. J. Civ. Arch. Struct. Constr. Eng. 8:91–95

[4]  Ellen MacArthur Foundation. (2015). Towards a Circular Economy: Economic and business rationale for an accelerated transition.

Disponível em: https://www.ellenmacarthurfoundation.org/assets/downloads/publications/Ellen-MacArthur-Foundation-Towards-the-Circular-Economy-vol.1.pdf

[5] McDonough, W. & Braungart, M. (2009). Cradle to Cradle: Re-making the way we make things (1a edição). Londres: Vintage Books.

[6] BeeCircular. Diagrama de Borboleta: No caminho de Circularidade. (2020). Disponível em: https://www.beecircular.org/post/borboleta 

[7] Cerame-Unie – The European Ceramic Industry Association (2014). Cerame-Unie’s Views on Resource Efficiency & the Circular Economy Package. Brussels.

[8] Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro. (2019). Economia Circular no Setor do Vidro e da Cerâmica. Disponível em: https://www.ctcv.pt/pdf/RELATORIO_EUROACELERA_CTCV_Aveiro.pdf

[9] Revigrés. (2021) Ambiente – A nossa cerâmica é verde. Disponível em: https://revigres.pt/ambiente

[10] BCSD Portugal. (2020). Caso de Estudo Economia Circular: De resíduo a matéria-prima: a incorporação de lamas de tratamento de água no fabrico de telhas cerâmicas. Disponível em: https://bcsdportugal.org/wp-content/uploads/2020/12/Caso-de-Estudo-Economia-Circular-Aguas-de-Portugal-20200918-2.pdf

 

O Curso em Economia Circular tem como objetivo dotá-lo dos conceitos base de economia circular, numa ótica de análise de ciclo de vida. Com a aplicação de software da especialidade será capaz de analisar problemas complexos e sistémicos, identificando oportunidades de melhoria, de modo a propor soluções práticas de economia circular adequadas ao contexto da sua organização.

O curso pretende que os formandos adquiram conhecimentos fundamentais sobre economia circular e ferramentas de apoio à sua implementação e avaliação (software); identifiquem pontos de melhoria e propor possíveis soluções na ótica de economia circular; saibam comunicar ações realizadas na ótica de economia circular; e que adquiram conhecimento de casos práticos e de utilização de ferramentas que permitem repensar e mudar o modelo de negócio e as operações numa ótica de economia circular.