A Economia e a Pandemia – que perspetivas um ano depois?
Um ano depois da chegada do Covid-19 à Europa (ou da sua deteção), continua a ser praticamente impossível falar de economia sem falar de pandemia. Por isso, impõe-se uma sequela do artigo aqui publicado no fim do primeiro grande confinamento, já em pleno desconfinamento.
A pandemia tem tido um impacte tão claro, imediato e brutal na economia que rapidamente surgiu, na investigação económica, um “ramo” dedicado a “Covid-19 Economics” ou “The Economics of Covid-19”. Cabem aqui análises variadas como o impacte da pandemia nas bolsas, na educação das crianças e consequentemente no capital humano do futuro, na igualdade de género, na transição energética, para além das mais óbvias sobre os défices públicos, o crescimento económico, o desemprego, a inflação, as desigualdades. Ou seja, a pandemia tudo afeta.
Uma doença comunitária como esta está repleta de externalidades e de externalidades de externalidades. Sabemos que um descuido pode gerar uma infeção, que pode gerar outras, que podem gerar outras… e que vão agravar a crise sanitária e económica. A boa gestão das expetativas, que se ensina e aprende em Economia, é fundamental, mas o evoluir da crise tem mostrado que, no atual contexto, ela pode funcionar ao contrário, na medida em que o otimismo pode aumentar os contágios e assim atrasar a desejada recuperação económica. E num cenário em que a incerteza é extrema – não só devido ao vírus mas também nomeadamente ao Brexit e à evolução da guerra comercial EUA-China -, qualquer previsão económica é praticamente inútil por causa da enorme margem de erro associada.
Algumas variáveis, porém, conseguimos neste momento prever como vão evoluir. O desemprego é inequivocamente uma delas, quando os indivíduos que ainda não engrossaram os números por não serem, nesta fase, considerados como ativamente à procura de emprego, transitarem da categoria de inativos para a de desempregados, e quando algumas empresas esgotarem a capacidade de reação a este choque adverso (o que será sentido mais cedo nas que apresentam maior rigidez na estrutura de custos, seja por elevados custos fixos operacionais, seja por elevados custos financeiros derivados do endividamento). Outra variável será a inflação, quando as dificuldades nas plataformas logísticas se intensificarem pelo fecho de fronteiras (e pela necessidade da apresentação de teste negativo por parte dos transportadores). A escassez e eventual aumento de poder de mercado podem conduzir ao crescimento dos preços. Desde o início da pandemia a inflação na União Europeia, medida pela variação do índice harmonizado de preços no consumidor, tem mostrado tendência decrescente (apenas interrompida com uma breve subida em junho e julho de 2020), por queda da procura agregada, com valores negativos desde agosto. Os próximos meses dirão se esta tendência se vai inverter, por conjugação com um choque na oferta agregada em associação com o eventual início da escassez de alguns bens intermédios e de consumo final.
Para além da conhecida expressão “The Great Lockdown”, esta pandemia e a crise por ela gerada na economia foram já também designadas por “The Great Reallocation”. Na verdade, a transformação gerada nos padrões de consumo e a aceleração da transformação digital (mais teletrabalho e mais take-away e home-delivery, menos deslocações e viagens, etc.), com consequentes repercussões no tecido produtivo, levaram e levarão à necessidade de transferir recursos entre sectores. A alocação ótima alterou-se substancialmente, porém o caminho para o novo equilíbrio poderá ser demorado e fazer vítimas. Para além das vítimas diretas da doença, temos as vítimas da pobreza gerada, pois é sabido que os períodos de recessão agravam as desigualdades sociais. É mais fácil distribuir bem quando o bolo cresce do que quando diminui. E o que temos atualmente é exatamente uma diminuição do bolo, com as grandes economias mundiais, à exceção da chinesa, a apresentarem crescimentos negativos do PIB em 2020 e muitas incertezas sobre uma desejada recuperação em 2021. Neste sentido a crise pandémica veio também exacerbar diferenças entre regimes políticos e diferentes graus de abertura. O vírus agradece a globalização e a liberdade associada às democracias, que lhe permitem expandir-se mais facilmente, criando um trade-off não antecipável com o crescimento económico.
Os cursos de Economia para Engenheiros e de Estratégia Empresarial para Engenheiros oferecidos pelo Técnico+ são um contributo no sentido de promover a capacidade de compreender e relacionar fenómenos económicos. A dinâmica dos agentes económicos, em interação entre si e com a envolvente macro, geram adaptações estratégicas e muitas vezes inovadoras, no sentido de preservar ou aumentar a competitividade.
- As repercussões do atual contexto pandémico nos mercados à luz da Microeconomia e da Macroeconomia?
- Que deslocações provoca na procura e na oferta, no equilíbrio dos mercados, e como é que as estruturas de custos, as elasticidades e o grau de concorrência influenciam esses efeitos?
- Que políticas macroeconómicas podem ser usadas num contexto de recessão e qual o papel dos estabilizadores automáticos?
- O que é o crescimento económico, como se mede e como se relaciona com o desemprego e com a inflação?
- Qual a importância da poupança e do investimento?
- Como flutuam estas variáveis ao longo do ciclo económico, como pode o Estado promover a estabilização da economia, quais os níveis e o racional para a intervenção do Estado, em que consiste o Orçamento de Estado e a Balança de Pagamentos, quais os instrumentos que Portugal tem num contexto de moeda única europeia, como vão a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu atuar e ajudar à recuperação económica da economia europeia e dos países europeus que pertencem à União Europeia e à zona euro (como é o nosso caso)?
A estas e outras perguntas se pretende dar resposta, a partir dos conceitos económicos fundamentais e da sua aplicação quer à economia portuguesa quer à União Europeia e à zona euro em que estamos inseridos, permitindo uma análise rigorosa dos efeitos em causa e um olhar crítico sobre a informação transmitida nos jornais económicos nacionais e internacionais. Este curso constitui uma importante mais-valia para os participantes, ajudando a melhor entender o ambiente económico em que se insere a sua organização.
O curso de Estratégia Empresarial para Engenheiros oferecido pelo Técnico+ fornece aos engenheiros ferramentas teóricas e aplicadas para melhor entender os conceitos fundamentais da concorrência empresarial, da regulação económica e da análise e funcionamento dos mercados.
- Quais as melhores estratégias de diferenciação, de pricing, ou de barreiras à concorrência, em função da procura, da estrutura de mercado e do grau de rivalidade?
- Quais as vantagens de ser líder ou de ser seguidor?
- Como se alteram as variáveis estratégicas em função do contexto económico (por exemplo, em clima de recessão pós-covid)?
- Em que circunstâncias pode ocorrer guerra de preços?
- Qual o papel dos fornecedores e quais as vantagens da integração vertical?
- Como surgem os monopólios e qual o papel da política de concorrência no sentido de limitar abuso de posição dominante?
- Como interpretar as estratégias de fusões e aquisições, integração vertical, desintegração, diversificação e internacionalização e como perceber a lógica das cadeias de valor globais à luz das estratégias de internacionalização e de deslocalização (offshoring, nearshoring e reshoring)?
O curso dá resposta a esta e outras perguntas, complementando a discussão com recurso a casos reais, abordando também as alterações nas cadeias de valor e as disrupções nos modelos organizacionais e de negócios na sequência da atual crise pandémica e alargando a capacidade de análise e interpretação dos comportamentos estratégicos das empresas no mercados em que se inserem, no sentido de os antecipar num ambiente de ação-reação entre rivais (“jogo”) com eventuais assimetrias de informação.
Margarida Catalão Lopes
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