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Engenharia e Gestão, Economia

A Inflação e os Preços da Energia


I – A INFLAÇÃO DO LADO DA PROCURA

As políticas monetárias e orçamentais muito expansionistas iriam criar uma inflação pelo lado da procura, pois iriam gerar uma forte procura de bens e serviços na economia.

É conhecida a famosa expressão de Milton Friedman dizendo que a inflação é um fenómeno monetário. Na minha opinião, enquanto a criação de moeda e a correspondente injeção de massa monetária na economia levar a um aumento da procura de bens e serviços, ao qual a oferta reage para satisfazer esse aumento da procura, tal aumento de massa monetária é útil, pois estimula a economia sem haver inflação.

Mas quando a oferta não reage à procura, que foi estimulada pelo aumento da massa monetária em circulação na economia, desencadeia-se um processo inflacionista. Com a retoma económica pós-Covid houve um forte aumento da procura de bens e serviços, pois os consumidores transformaram a poupança acumulada durante o confinamento em procura de bens e serviços, enquanto a oferta teve dificuldade em reagir a esse aumento da procura por estrangulamentos nas cadeias de abastecimento que vinham da fase do confinamento. Estavam, pois, criadas todas as condições para o surgimento de fortes tensões inflacionistas.

Por outro lado, é da história económica que quando a inflação começa, os bancos centrais ficam em estado de negação e dizem sempre que será transitória, mas basta os agentes incorporarem a subida dos preços nas suas expectativas, como acontece com os sindicatos nas negociações salariais, para se tornar permanente. Mas a inflação nos nossos países começou sem os consumidores se aperceberem, surgindo com a chamada inflação dos ativos, pois a criação de moeda e o excesso de liquidez conjugados com as baixas taxas de juro levaram à procura de ativos com maior rendibilidade (search for yield).

No pós-Covid, como já referido, a elevada poupança acumulada levou a uma grande procura de bens, tendo a oferta dificuldades em responder, assistindo-se a roturas nas cadeias de abastecimento, começando aí a inflação a ser sentida pelos consumidores, através dos aumentos dos preços dos bens que constituem o cabaz de compras típico de um consumidor, através do qual se calcula o valor do índice de preços ao consumidor (IPC), cuja variação nos dá a taxa de inflação sentida pelo mesmo.

II – OS PREÇOS DA ENERGIA

Mesmo antes da chocante invasão da Ucrânia pelo Sr. Putin, já se sentia no Mundo uma crise energética, aquilo a que tenho chamado a primeira crise energética em contexto de descarbonização. Tal devia-se a um forte crescimento da procura por combustíveis fósseis, designadamente petróleo, carvão e gás natural, na sequência da retoma económica pós-Covid, mas em nome da descarbonização tinham-se travado novos investimentos e novas produções de combustíveis fósseis criando uma tremenda pressão da procura sobre a oferta que tinha dificuldade em acomodar essa procura, levando ao disparo dos preços da energia nos mercados mundiais.

Segundo o muito credível “Statistical Review of World Energy” da BP, o consumo mundial de energia primária aumentou em 2021 5,8% em relação a 2020, atingindo mesmo um nível mais elevado do que se tinha verificado em 2019 antes da pandemia, sendo até o nível mais elevado de sempre. Este aumento da procura foi muito puxado pelas economias emergentes e as energias fósseis representaram mais de 82% do consumo de energia primária e mais de 61% da produção de eletricidade no Mundo.


Na realidade, a Europa e os EUA tinham desistido de investir nas energias fósseis e na energia nuclear, apostando tudo nas energias renováveis intermitentes, no hidrogénio e na rápida eletrificação do Mundo com veículos elétricos a substituírem os veículos de combustão interna e a eletricidade e o hidrogénio a substituírem o gás natural nos consumos domésticos e industriais. Queria-se, ao mesmo tempo, abandonar o nuclear e as energias fósseis, como foi evidente na Alemanha. Nos EUA a Administração Biden ameaçava judicialmente executivos de empresas petrolíferas, enquanto a União Europeia (UE) vivia num doce casulo, querendo quase sozinha descarbonizar o Mundo quando apenas emitia 8% do CO2 mundial!


Já em 21 de abril de 2008, numa Conferência sobre Energia organizada pela Ordem dos Engenheiros, CIP, AIP e AEP, eu antecipava: “No que toca às renováveis, a sua volatilidade e intermitência não permitem, infelizmente, que elas se configurem como única alternativa às fontes de energia que satisfazem a base do diagrama de carga das grandes economias industrializadas. O caso da Alemanha é paradigmático, pois tem-se empenhado nas renováveis, mas se quiser suprimir a via nuclear aumentará a importância do carvão e do gás natural, ou seja, mais CO2 e mais dependência da Rússia”.

E a minha experiência de Engenheiro de Redes da EDP e de Professor de Produção e Transporte de Eletricidade no IST também me levou a prever que os nossos sistemas elétricos com renováveis intermitentes iriam ficar cada vez mais dependentes das centrais de gás natural, com estas a servirem de pronto-socorro à intermitência das renováveis e a marcarem o preço da eletricidade nalgumas horas.


A invasão da Ucrânia veio agora tornar evidente aos olhos do grande público tudo isto, exacerbando a crise energética que já se sentia antes dessa invasão. Tal é particularmente evidente no gás natural devido à trágica dependência europeia e alemã da Rússia. Mas esta crise energética é muito mais profunda e mais global do que o choque petrolífero de 1973. Ela tem uma dimensão múltipla: gás natural mas também petróleo e carvão, eletricidade dependente das centrais de gás natural que atuam como centrais marginais e fixam o preço  elevadíssimo da eletricidade nalgumas horas, segurança alimentar e altos preços dos alimentos que importamos.


III – A INFLAÇÃO DO LADO DA OFERTA
Em complemento a essa inflação do lado da procura, ligada a essas politicas monetárias e orçamentais ultraexpansionistas, temos agora também  a chamada inflação do lado da oferta, aumentando os custos nas nossas economias, associada ao estratosférico aumento de preço dos bens importados ,energia ,alimentos e matérias primas, que não é da responsabilidade dos bancos centrais, sendo mais difícil de combater por eles, pois a eficácia da subida das taxas de juro é menor do que no caso da inflação pelo lado da procura, em que essa subida de taxas conjugada com a reversão do Quantitative Easing, fazendo o  QT – Quantitative Tightening, conseguirá travar o surto inflacionista.


Essa subida muito elevada dos preços dessas importações configura numa economia como a portuguesa uma alteração negativa para nós dos termos de troca com o exterior e o consequente choque negativo da oferta sobre a economia portuguesa na medida em que os preços das importações aumentam mais do que o preço das exportações. Com efeito, as nossas empresas tem muita dificuldade em passar para o cliente estrangeiro os aumentos dos preços dos inputs, como é o caso da energia.

Na economia global e em mercados externos muto competitivos apenas algumas empresas conseguem passar para o cliente final os aumentos dos custos de produção. São as chamadas empresas com pricing power que têm marcas muito fortes com grande domínio do mercado e grande fidelização dos clientes à marca e que conseguem assim oferecer produtos com baixa elastecidade procura-preço, aumentando os preços sem que a procura seja afectada. Só as economias mais fortes e desenvolvidas  como a americana é que têm empresas com esse pricing power, o mesmo não acontecendo connosco pois não temos nos mercados internacionais empresas com esse pricing power .

IV – BCE E FED
E o dólar  valorizava-se em relação ao euro por o banco central americano (FED) ter começado a subir as taxas antes do BCE, levando a aumentos dos preços em euros das importações em dólares.
Mas o BCE tem uma tarefa mais difícil do que a FED porque nos EUA pesava sobretudo a inflação pelo lado da procura, para a qual também contribuíram os excessos orçamentais de Biden, enquanto que na zona euro uma parte significativa da subida de preços se deve à inflação pelo lado da oferta, mais difícil de combater pelo banco central; a zona euro tem neste momento três grandes economias com dívidas públicas superiores a 100% do PIB – França, Espanha e Itália – pelo que existirá um conflito entre a normalização da política monetária e as preocupações com a sustentabilidade das dívidas públicas nesse cenário de subidas das taxas de juro, com o risco de fragmentação da zona euro.

Haverá, pois, razões para a prudência que o BCE teve na subida das taxas, mas, de facto, o BCE atrasou-se em relação à FED no ciclo de subidas de taxas de juro.

No nosso programa Economia para Engenheiros ministrado no Técnico +, Instituto de Formação de Executivos do IST, ensinamos as questões abordadas neste artigo, tais como: o conceito de inflação, a inflação pelo lado da procura e pelo lado da oferta, o conceito de elasticidade procura-preço, os choques do lado da oferta e do lado da procura sobre a economia, as politicas orçamentais dos governos e as politicas monetárias dos bancos centrais, numa linguagem acessível e que permite aos engenheiros ficarem a dominar questões essenciais da actualidade económica.

Os cursos de Economia para Engenheiros e de Estratégia Empresarial para Engenheiros oferecidos pelo Técnico+ são um contributo no sentido de promover a capacidade de compreender e relacionar fenómenos económicos. A dinâmica dos agentes económicos, em interação entre si e com a envolvente macro, geram adaptações estratégicas e muitas vezes inovadoras, no sentido de preservar ou aumentar a competitividade. 

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O curso de Economia para Engenheiros oferecido pelo Técnico+ fornece ferramentas teóricas para melhor entender os fenómenos económicos, suas causas e impactos, com aplicações ao caso português. Como analisar, por exemplo:
  • As repercussões do atual contexto pandémico nos mercados à luz da Microeconomia e da Macroeconomia?
  • Que deslocações provoca na procura e na oferta, no equilíbrio dos mercados, e como é que as estruturas de custos, as elasticidades e o grau de concorrência influenciam esses efeitos?
  • Que políticas macroeconómicas podem ser usadas num contexto de recessão e qual o papel dos estabilizadores automáticos?
  • O que é o crescimento económico, como se mede e como se relaciona com o desemprego e com a inflação?
  • Qual a importância da poupança e do investimento?
  • Como flutuam estas variáveis ao longo do ciclo económico, como pode o Estado promover a estabilização da economia, quais os níveis e o racional para a intervenção do Estado, em que consiste o Orçamento de Estado e a Balança de Pagamentos, quais os instrumentos que Portugal tem num contexto de moeda única europeia, como vão a  Comissão Europeia e o Banco Central Europeu atuar e ajudar à recuperação económica da economia europeia e dos países europeus que pertencem à União Europeia e à zona euro (como é o nosso caso)?

A estas e outras perguntas se pretende dar resposta, a partir dos conceitos económicos fundamentais e da sua aplicação quer à economia portuguesa quer à União Europeia e à zona euro em que estamos inseridos, permitindo uma análise rigorosa dos efeitos em causa e um olhar crítico sobre a informação transmitida nos jornais económicos nacionais e internacionais. Este curso constitui uma importante mais-valia para os participantes, ajudando a melhor entender o ambiente económico em que se insere a sua organização.

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O curso de Estratégia Empresarial para Engenheiros oferecido pelo Técnico+ fornece aos engenheiros  ferramentas teóricas e aplicadas para melhor entender os conceitos fundamentais da concorrência empresarial, da regulação económica e da análise e funcionamento dos mercados.

  • Quais as melhores estratégias de diferenciação, de pricing, ou de barreiras à concorrência, em função da procura, da estrutura de mercado e do grau de rivalidade?
  • Quais as vantagens de ser líder ou de ser seguidor?
  • Como se alteram as variáveis estratégicas em função do contexto económico (por exemplo, em clima de recessão pós-covid)?
  • Em que circunstâncias pode ocorrer guerra de preços?
  • Qual o papel dos fornecedores e quais as vantagens da integração vertical?
  • Como surgem os monopólios e qual o papel da política de concorrência no sentido de limitar abuso de posição dominante?
  • Como interpretar as estratégias de fusões e aquisições, integração vertical, desintegração, diversificação e internacionalização e como perceber a lógica das cadeias de valor globais à luz das estratégias de internacionalização e de deslocalização (offshoring, nearshoring e reshoring)?

 

O curso dá resposta a esta e outras perguntas, complementando a discussão com recurso a casos reais, abordando também as alterações nas cadeias de valor e as disrupções nos modelos organizacionais e de negócios na sequência da atual crise pandémica e alargando a capacidade de análise e interpretação dos comportamentos estratégicos das empresas no mercados em que se inserem, no sentido de os antecipar num ambiente de ação-reação entre rivais (“jogo”) com eventuais assimetrias de informação.

Engenharia e Gestão, Economia

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