A Competitividade das Nações - o Caso Português
Costumo explicar aos meus alunos, nossos colegas engenheiros nos programas de pós-graduação do Técnico+, a escola de pós-graduação e formação avançada do IST, e a primeira em Portugal nas áreas da tecnologia, engenharia, ciência e arquitetura, “Economia para Engenheiros” e “Gestão para Engenheiros”, resultantes da cooperação estabelecida com a Região Sul da nossa Ordem dos Engenheiros, as ópticas física e económica para definir a produtividade.
Numa óptica física, define-se habitualmente produtividade num processo produtivo como um rácio entre duas grandezas físicas, o output e o input. Em termos económicos, é fácil de perceber que se tivermos como output um produto que já não se consegue vender no mercado, bem podemos aumentar a produtividade do processo produtivo, ou seja, produzir mais unidades com o mesmo input, que não resolveremos o nosso problema de competitividade no mercado. No contexto desta definição de produtividade, poderemos, então, dizer que a produtividade será condição necessária para a competitividade, mas poderá não ser suficiente.
Numa óptica económica define-se, então, produtividade dum processo produtivo como um rácio entre o valor acrescentado no processo produtivo e o input. Como só há valor acrescentado se houver utilidade social e valor de mercado (preço) para aquilo que produzimos, ao introduzir a noção de valor acrescentado, aproximamos a noção de produtividade da de competitividade.
A competitividade é, no fundo, a capacidade de as empresas produzirem bens e serviços numa base sustentável de forma mais eficiente do que as suas competidoras, quer em termos dos factores preço, quer dos factores não preço (factores de ordem qualitativa). A competitividade consiste, pois, em transformar ideias em produtos de uma forma melhor, mais rápida e mais barata do que os concorrentes.
Em termos de um país, a noção de competitividade descreve, de forma genérica, o desempenho da economia e a sua capacidade em segurar ou aumentar quotas de mercado nos mercados externos em que compete (Krugman, 1996, Porter, 1998). Por isso, as quotas de mercado dos seus principais sectores de actividade na economia global dão-nos uma boa imagem da competitividade do país e dos seus sectores económicos expostos à concorrência internacional (bens transacionáveis).
Acontece que para medir a competitividade recorre-se muitas vezes a vários indicadores de desempenho, sendo o mais frequente a produtividade e, por isso, muitas vezes, discute-se a competitividade de um país através dos indicadores de produtividade.
Os relatórios do World Economic Forum sobre a competitividade de todos os países do mundo constituem, hoje em dia, um dos mais conhecidos modelos nesta matéria e, neste exercício, a nossa posição não tem sido famosa.
Também num passado recente se recorreu aos conhecidos modelos de Michael Porter. Eu próprio, em 1992 como Ministro da Indústria e Energia, por uma oportuna sugestão do nosso colega Luis Todo Bom, convidei o Professor Porter para vir a Portugal aplicar o seu modelo à economia portuguesa e daí nasceu o Famoso Relatório Porter sobre a competitividade da economia portuguesa, infelizmente ainda muito actual em muitos aspectos críticos para a nossa competitividade, dado que os governos que nos sucederam pouco seguiram as suas recomendações… Esse modelo, o chamado modelo das cinco forças competitivas (Porter, 1980) fazia a análise das seguintes forças competitivas em vários setores da nossa economia: (1) ambiente, estratégia empresarial e concorrência, ou seja, o nível de rivalidade interna no setor; (2) poder negocial dos clientes; (3) poder negocial dos fornecedores; (4) potencial de entrada de novos concorrentes (de outra indústria); (5) produtos substitutos (de outra indústria). Ao caracterizar esses items na forma como funcionavam em Portugal, inferiam-se as condições objectivas de funcionamento da nossa economia e daí facilmente se retiravam as recomendações sobre políticas públicas horizontais (educação, financiamento, entre outras) e estratégias empresariais para melhorar a nossa competitividade.
Outro exercício hoje muito em voga no Quadro da União Europeia (UE) é a comparação do PIB per capita em paridades do poder de compra dos países que compõem este bloco europeu. Aí, também o panorama é muito preocupante para Portugal. Em 2002, estávamos na posição número quinze entre os 27 países da UE, em 2005 descemos para a 16ª posição, em 2011 já estávamos na 17ª posição, em 2015 continuámos a descer para a 18ª posição e em 2021 fomos ultrapassados por mais alguns países europeus, caindo a pique para a 21ª posição, só tendo já atrás de nós a Roménia (mas já colada a nós e em risco de nos ultrapassar brevemente), a Letónia, a Croácia, a Eslováquia, a Grécia e a Bulgária. Esta triste dinâmica mostra como o nosso país se tem vindo a afundar no contexto europeu.
2. O problema português
A noção de competitividade é um conceito sistémico que deve abarcar várias dimensões. Por exemplo, numa pequena economia como a portuguesa, inserida num espaço europeu com liberdade de circulação de pessoas, bens, serviços e capitais, a competitividade fiscal do nosso país é um aspecto muito importante (sobretudo quando comparada com o caso irlandês, com uma taxa de IRC de 10%), mas os países não competem só através da dimensão fiscal.
Tendo em conta o que dizem os relatórios sobre a nossa competitividade, devíamos apostar numa reforma fiscal com redução da despesa pública e consequente redução de impostos para empresas e famílias, na reforma da justiça e dos tribunais, na flexibilização dos mercados de trabalho e emprego de acordo com o conceito de flexi-segurança, na redução drástica da burocracia e na transformação digital da Administração Pública (envolvendo processos, pessoas e tecnologias), nos movimentos de cooperação e de concentração empresarial, na formação dos recursos humanos e na inovação empresarial com reforço das ligações entre empresas e o sistema científico e tecnológico.
Portugal perdeu, em termos económicos, as duas primeiras décadas do século XXI, pois há vinte anos que a economia portuguesa praticamente que não cresce.
Como vimos pelo PIB per capita, em termos do poder de compra, os novos aderentes da UE aproximaram-se de nós, muitos deles já nos ultrapassaram, duma forma geral têm uma população com níveis de educação e de formação de base superiores à nossa, têm mercados de trabalho mais flexíveis e estão mais próximos do centro dos mercados europeus do que nós.
Também continuamos com uma estrutura empresarial muito atomizada em unidades de micro e pequena dimensão, com baixíssimas produtividades e sem escala para fazerem investimentos no domínio da produtividade, inovação e internacionalização. Importa estimular um movimento de cooperação e de concentração empresariais para aumentar a dimensão e massa críticas da nossa estrutura empresarial.
No meio deste panorama, existe felizmente uma boa notícia: o investimento no ensino superior e universitário, designadamente nas nossas excelentes escolas de engenharia e de economia e gestão, está a mudar o nível e qualificação dos nossos jovens, formando e lançando no mercado de trabalho e na vida empresarial uma nova geração altamente qualificada de engenheiros ,gestores e empreendedores, estando até estes a dinamizar um interessante movimento de novas startups, muitas vezes criadas por investigadores universitários, viradas para o mercado global.
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O curso Economia para Engenheiros visa aspetos teórico-práticos da Economia e a sua influência nos processos de Engenharia. Através da abordagem teórica de conceitos e da sua aplicação, explora-se os impactos que os mesmos podem ter na decisão em contextos de Engenharia. A empresa e/ou organização é vista numa perspetiva de enquadramento na influência do Estado, sendo que essas influências podem determinar as escolhas e opções com que o engenheiro no seu exercício tem de lidar.
Luís Mira Amaral
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