A (falácia) da substituição dos materiais como promotora da circularidade
Marta Brazão
Atualmente existe uma grande vontade e pressão para que todos os cidadãos sejam mais sustentáveis, circulares, e/ou “verdes” – consoante o conceito que se quer utilizar. E neste momentum também as marcas se agarram à oportunidade de mostrarem aos seus clientes todos os esforços (muitas vezes pequenos ou inadequados), que têm feito em prol do ambiente e da sustentabilidade ambiental. E, para tal, também muitas vezes, usam o desconhecimento e ignorância das pessoas sobre estes tópicos para construir uma narrativa e promoverem práticas que de sustentáveis não têm nada ou têm muito pouco.
Vejamos o caso do conhecido copo de café descartável. Em Portugal, a prática é utilizar-se loiça quando se bebe um café num restaurante, padaria ou qualquer outro estabelecimento, mas, nas máquinas automáticas ou no takeaway, as hipóteses limitavam-se aos copos descartáveis de plástico. No entanto, nos últimos anos tem-se vindo a perceber o impacte que os plásticos têm no ambiente e nas pessoas e, como tal, as marcas querendo-se distanciar da origem do problema fizeram o mais fácil: substituíram o material dos copos descartáveis de plástico para o papel. O problema está no facto deste papel ser revestido com uma película plástica para conferir impermeabilidade ao copo.
Ambas opções têm impactes ao longo do seu ciclo de vida, ou seja, na extração de matérias-primas, na sua produção e na sua fase de descarte, mas é aqui que o greenwashing começa. Enquanto copos feitos apenas de plástico podem ser reciclados pelos nossos sistemas de gestão de resíduos, o copo de papel com película de plástico, intitulado de “monstro” (como se apelidam os produtos que misturam materiais, e, portanto, não permitem a sua correta separação e reciclagem), não pode ser reciclado à luz da tecnologia atual que temos em Portugal. As organizações alteram todos os seus copos para estes “monstros” alegando que são mais sustentáveis e que são recicláveis e na realidade, nem recicláveis são! E porquê? Porque não é possível separar uma película ultrafina de plástico que esses copos contêm. É possível assumir que o sistema de reciclagem de papel monomaterial “aguenta”, sem contaminar o restante papel, alguma quantidade destes copos, mas de forma generalizada estes copos de papel plastificado devem ser colocados no lixo indiferenciado, acabando em aterro. Mais irónico é, que os copos de plástico monomaterial podem ser reciclados! Não estamos com esta informação a dizer que os copos descartáveis são uma boa solução, mas as empresas também não podem afirmar que os copos de papel que utilizam massivamente são amigos do ambiente e melhores que a solução existente.
Este é um dos muitos exemplos que existem não só do mau design dos produtos, como também da falta de conhecimento e informação das organizações que compram estes copos a pensar que estão a melhorar a sustentabilidade; das empresas que os vendem e que alegam sem provas concretas que os mesmos são melhores e, dos utilizadores, que recebem esta informação e que tranquilizam as suas mentes achando que estão a ser mais sustentáveis. Este é também um exemplo daquilo que a economia circular não promove. A economia circular não promove que se substituam materiais por materiais supostamente mais sustentáveis e circulares, promove sim sistemas que prologuem a vida dos produtos. Assim, alterar um material comumente utilizado e demonizado pela sua quantidade e descartabilidade e substituir por outro que também apresenta impactes negativos e, que continua a ser descartável, não é verdadeiramente resolver o problema, é perpetuar o problema.
O que a economia circular defende são soluções não descartáveis, alicerçadas no ecodesign, que pensam no produto durante as diferentes fases do ciclo de vida, incluindo o seu eventual descarte. São soluções com base na reutilização de produtos duráveis, incorporando materiais seguros, assentes num sistema de reutilização e de retoma e associadas a uma responsabilidade do produtor.
São estes os conceitos e princípios que vamos partilhar e aprofundar nesta segunda edição do curso de especialização “Economia Circular – Metodologias para a Transição nas Empresas”. Através de um conjunto alargado de conteúdos, como introdução à economia circular e aos seus modelos de negócio, às ferramentas de circularidade e à partilha de exemplos demonstradores deste modelo, pretendemos que os participantes consigam construir um pensamento crítico, sistémico e robusto e, que sejam capazes de incorporar este pensamento e mudanças nos seus contextos profissionais e pessoais.
O Curso em Economia Circular apresenta os conceitos base de economia circular através da utilização de ferramentas da especialidade e de casos práticos, permitindo-lhe assim diagnosticar, criar e implementar soluções de economia circular, no meio organizacional e a título pessoal.
O curso pretende que os formandos adquiram conhecimentos fundamentais sobre economia circular, estratégias e enquadramento legislativo e desenvolvam competências para implementar estratégias e medidas circulares para aumentar a circularidade de uma organização. Os formandos terão contacto com ferramentas de avaliação de circularidade e com casos práticos de economia circular de vários setores económicos. No final do curso, serão capazes de compreender a articulação entre economia circular, responsabilidade social e economia social e solidária.
Ana Carvalho
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