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Engenharia e Gestão, Empreendedorismo e Inovação

A Inovação e a Estratégia nas Empresas

Porque é que a inovação nas empresas é hoje mais do que nunca importante? E porque é que a inovação nas empresas deixou de ser essencialmente operacional e passou a ser estratégica? Em mercados competitivos, os ciclos de consumo e rotação de portfolio ultra rápidos ditam o destino das empresas: não são as empresas maiores ou mais fortes que têm mais hipóteses de sobreviver, mas sim as empresas que melhor e mais rapidamente se adaptam à mudança. Neste novo Darwinismo empresarial a inovação é a única ferramenta verdadeiramente eficaz.

O mercado global está a mudar. Primeiro facto, o volume global de exportações sobre o produto interno bruto tem uma trajectória de crescimento contínuo entre 1970 e 2008, em que cresce dos 14% aos 31% e desde esse ano estagna [1].

É certo que a crise financeira teria sempre um impacto conjuntural, mas seria de esperar uma retoma no comércio global, até porque o nível das tarifas globais cai continuamente até meados de 2018, altura em que a administração Trump aumenta as tarifas, em particular com a China.

Segundo facto, o investimento directo estrangeiro global cai 25% entre 2015 e 2019, de $2 trillion para $1.5 trillion e estima-se que volte a cair em 2021 para $1 trillion [2]. Esta queda de 50% no investimento directo estrangeiro em apenas cinco anos não pode deixar de impactar significativamente a economia mundial.

Portanto, com o comércio global estagnado na última década, com o investimento directo estrangeiro global a cair, com as tarifas entre os principais blocos comerciais a crescer e para além disto, com o crescimento das tensões políticas entre os principais blocos, tudo indica que a globalização, no melhor dos casos, vai ficar estagnada por muitos e longos anos.

Será a estagnação da globalização um problema para o crescimento das empresas? Vejamos o caso europeu. Esta situação não favorece a União Europeia porque lhe dificulta a recuperação da quota de mercado global, perdida entretanto para a Ásia, em particular nos últimos quinze anos. Estima-se [3] que neste período e só em relação à China o conjunto dos países da União Europeia tenha aumentado por um fator de 10x o gap na produção industrial. Gap de cerca $300 billion em 2005 que aumenta para cerca de $3 trillion em 2019. Este aumento do gap significou obviamente uma perda brutal de quota de mercado em produtos fabricados.

Neste contexto, como é que a União Europeia pode recuperar o terreno perdido? A resposta passa pela aceleração da inovação na economia e na sociedade europeia. A União Europeia não pode repetir o erro dos últimos vinte anos em que perdeu a liderança da indústria digital por ter parado de inovar nas tecnologias digitais, em particular no software e nos semicondutores.

A União Europeia precisa de inovação para criar novas indústrias, que vão substituir indústrias tradicionais que vão entretanto morrendo. Mas será que a inovação só é necessária para as novas indústrias? E as indústrias tradicionais, não necessitam também elas de inovação? Claro que sim, para aumentar a produtividade e serem mais competitivas. Onde devem investir as indústrias tradicionais na inovação? Por exemplo podem começar pela sua transformação digital e pela agilização dos seus modos de operação.

A inovação é essencial para a União Europeia; as empresas Europeias têm de pôr a inovação no topo das suas estratégias de negócio.

No entanto, a inclusão da inovação na estratégia da empresa per se não faz nada se não for acompanhada de um plano concreto com objectivos claros, métricas pré-definidas e avaliação dos resultados, ou seja o investimento em inovação só terá um impacto estratégico no negócio da empresa se for gerido de uma forma sistemática e consequente, com uma governança apropriada e envolvendo os meios humanos e materiais necessários e suficientes. Em resumo, para se garantir o impacto estratégico no negócio, resultante do investimento em inovação, as empresas têm de se munir de um sistema de gestão da inovação.

Os actuais Sistemas de gestão da inovação são colaborativos, no sentido em que envolvem permanentemente clientes e parceiros, trabalhadores, Universidades e instituições de investigação. O envolvimento dos seus clientes e parceiros é fundamental para permitir uma rápida identificação das suas necessidades e a respectiva incorporação nos novos produtos ou serviços. A colaboração com Universidades e outras instituições de base científica é crucial para a identificação das tecnologias emergentes e avaliação da possibilidade da sua incorporação nos seus produtos e serviços. Por último, estimular a contribuição dos trabalhadores da empresa na geração de inovação, nomeadamente, através da implementação de sistemas de gestão de ideias com o objectivo de capturar, avaliar, implementar e premiar as melhores propostas de inovação.

O primeiro objectivo de um sistema de gestão da inovação é a criação de novos produtos e serviços que o mercado valorize e permitam o crescimento e a criação de valor económico para a empresa. Isto é, crescimento das vendas, maior rentabilidade e que se traduza em maior liquidez financeira. Um estudo [4] de 2017, envolvendo 200 empresas dos Estados Unidos, indica que mais de 25% das vendas e rentabilidade é originada a partir de novos produtos e serviços. Esta rotação do portfolio de produtos e serviços só é possível com processos de inovação muito eficazes.

A inovação empresarial em empresas estabelecidas e com modelos de negócio estáveis, tende a prioritizar a chamada inovação de sustentação. Este tipo de inovação tem como principal objectivo estender o máximo possível no tempo os ciclos de vida útil dos produtos. É uma inovação que tipicamente contribui para aumentar o preço médio dos produtos ao longo do tempo, contrariando aliás a erosão natural do preço dos produtos ao longo do tempo. A indústria automóvel, é um bom exemplo da capacidade de gerar inovação de sustentação através da introdução progressiva de novas funcionalidades, mecânicas, de condução inteligente e de design.

No entanto, quando se fala em inovação empresarial, o que nos vem à memória são casos de inovação mais ligados à inovação disruptiva. São os casos mais emblemáticos. Quando falamos em inovação disruptiva, falamos sempre em criação de novos mercados e destruição de mercados existentes. Por exemplo, o caso do iPhone quando surge em 2007, é tipicamente uma inovação disruptiva que cria o novo mercado dos smartphones e simultaneamente inicia o fim do mercado dos telemóveis tradicionais.

As empresas quando inovam duma forma estratégica e sistemática, conseguem otimizar o tipo de inovação aos seus produtos e modelos de negócio. Um bom sistema de gestão da inovação deverá, de igual modo, ser competente para gerir os chamados roadmap tecnológicos. Nomeadamente, uma gestão estratégica de futuras quotas de mercado em novos mercados, envolve quase sempre a introdução de novas tecnologias e a eliminação de tecnologias que, por um motivo ou por outro, atingiram a saturação em termos de performance. Nestas circunstâncias, a gestão profissional do roadmap tecnológico é uma actividade crítica na gestão da inovação.

Contudo, muitas empresas, não obstante possuírem um sistema de gestão da inovação perfeitamente habilitado e operativo, não conseguem traduzir o investimento em inovação em resultados económicos palpáveis. Isto leva-nos a questionar, se a estratégia incluindo os objectivos e o respectivo investimento em inovação é a correcta? Ou, até se a inovação é gerida de uma forma apropriada na empresa? A prática, infelizmente, demonstra frequentemente que não. Porquê? Porque as empresas, em alguma altura da sua vida, vão necessitar de se transformar. Investir em inovação no modelo de negócio errado é uma má decisão, portanto tão importante como investir em inovação em novos produtos, é investir na inovação do próprio modelo de negócio, isto é, investir na própria transformação da empresa. Um sistema de gestão da inovação eficaz deverá ser capaz de produzir os primeiros sinais de alarme sobre a necessidade de a empresa iniciar um processo de transformação.

A transformação digital é hoje uma das formas mais comuns de transformação empresarial, porque é uma transformação transversal que cobre desde aspectos relacionados com o modelo de negócio, à comercialização, ao desenvolvimento e produção de novos produtos e serviços, até áreas transversais como a melhoria da relação com os clientes e fornecedores.  Mas a transformação digital permite também, o aumento da motivação e o empenho dos trabalhadores, nomeadamente na criação de plataformas de cooperação para o aumento da produtividade, em particular com recurso a metodologias Agile. Conquistar o trabalhador e transformá-lo num empreendedor.

No contexto ideal do trabalhador-empreendedor, em particular numa dinâmica de aumento da produtividade da inovação nas equipas de desenvolvimento de novos produtos e serviços, a aplicação proactiva das metodologias Agile tem vindo a demonstrar ser um verdadeiro gamechanger na rapidez do lançamento de novos produtos e serviços. Mais recentemente, as empresas líder em inovação, agregaram as metodologias de desenvolvimento Agile a metodologias DevOps, com o objectivo de não só acelerar o lançamento nos canais de comercialização dos novos produtos e serviços, mas também garantir a qualidade e a continuidade das respectivas operações.

No caso das empresas de base industrial, nomeadamente as empresas europeias que se deixaram atrasar em relação às suas competidoras asiáticas e americanas, a transformação digital pode constituir-se numa tábua de salvação. Para isso têm de  optar a tempo pela sua transformação e modernização. Neste contexto, as políticas da União Europeia de apoio à transformação digital das empresas industriais, a chamada Indústria 4.0, são uma excelente oportunidade de recuperação.

A Indústria 4.0 é uma grande aposta da União Europeia na disseminação das tecnologias digitais para a indústria fabril. Esta aposta nas tecnologias digitais, traduz-se na implementação de modernas redes de comunicações com latências ultra baixas, no uso massivo de automatismos de última geração geridos por inteligência artificial, passando pela disseminação no processo de fabrico de sensores inteligentes ligados em rede IoT, e pela utilização de tecnologia Big Data e de Analytics em todos os dados gerados no processo de fabrico. A I4.0 fomenta também, algo verdadeiramente novo até agora, que é a interligação em rede de todas as funções fabris e tudo suportado em Cloud. Aliás, seria importante referir que a Cloud é o maior contributo estrutural para a transformação digital.

Last but not the least, não há inovação sem talento e não há talento se não houver um forte sistema de ensino universitário ou politécnico orientado para as competências tecnológicas chamadas competências STEM, Science, Technology, Engineering and Mathematics.

Nos próximos dez anos, espera-se que o mundo precise de cerca de 200 milhões de novos graduados em STEM para fazer frente às diferentes transições e transformações da economia mundial.

Num artigo de Dezembro de 2018 no site do World Economic Forum, publica-se uma estatística com dados de 2016 sobre os sete países com maior número de novos graduados STEM nesse ano. A China lidera com 4.7 milhões de novos graduados STEM, seguida pela Índia com 2.6 milhões e pelos Estados Unidos com 570 mil. De referir que nenhum país da União Europeia aparece neste top.

Neste contexto, ou a União Europeia é capaz de lançar um grande programa de qualificação e requalificação em STEM ou continuará em declínio na competitividade e inovação em relação à Ásia e aos Estados Unidos.

  

 [1] Fonte:Exports of goods and services, % of GDP”, World Bank, 2021

[2] Fonte: UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development), World investment Report 2020

[3] Fonte: World Bank, world development indicators data base, GDP, PPP (current international $); Eurostat-OECD PPP program. Manufacturing value added (% GDP). Manufacturing ISIC divisions 15-37, revision 3, United Nations, Department of Economics and Social Affairs

[4] Fonte: “How to make sure your next product or service launch drives growth”, Mckinsey, Out 2017

 
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O curso em Inovação Estratégica fornece uma visão macro sobre a importância da inovação para o crescimento económico, tendências e comportamentos dos mercados e da sociedade em geral, abordando, também, modelos e sistemáticas de inovação e a utilização da tecnologia na transformação das empresas e organizações, em particular nos desafios da digitalização. Este curso conta com a coordenação de Joana Mendonça, Professora no Técnico e presidente do Conselho de Administração da ANI – Agência Nacional de Inovação, e de João Picoito, sócio fundador da P&A, membro do Conselho da Diáspora Portuguesa e Líder da Transição Digital na CCDR-LVT

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