A nova estratégia da inovação: ter produtividade é bom, mas ter escala é melhor
Quando olhamos para as empresas através do ângulo que evidencia a sua participação no mercado, podemos classificá-las em três classes: as empresas globais, as empresas regionais e as empresas locais.
Por exemplo, uma multinacional que venda para o mundo inteiro é global, uma empresa que só venda para um determinado país é local. Entre estes extremos há várias combinações possíveis em termos de presença no mercado.
Como Portugal tem hoje uma economia aberta, vamos focar-nos nas chamadas empresas globais porque qualquer empresa global pode participar no mercado português.
Uma empresa global pensa a sua estratégia de uma forma o mais abrangente possível e que possibilite uma oferta de produtos e serviços com sucesso para chegar ao maior número de clientes espalhados pelo mundo inteiro. Para esse efeito, precisa de inovação. Melhor ainda, precisa de uma estratégia de inovação.
Como o mercado global hoje é muito volátil, imprevisível, complexo e muitas vezes ambíguo, vamos encontrar na estratégia das novas empresas globais um elemento comum a todas elas: a procura de escala.
Há, portanto, para as novas empresas globais, uma relação direta entre a estratégia, a inovação e a escala. Esta nova trilogia faz parte do ADN da gestão destas empresas. É por assim dizer um conhecimento tácito da gestão.
Dizia-se há três décadas, e com algum fundo de verdade, que no mercado global só as três empresas no topo das quotas de mercado conseguiam verdadeiramente ter lucro e remunerar aceitavelmente o capital investido; todas as outras, ou perdiam dinheiro ou remuneravam deficientemente o capital investido. Ou seja, o conceito de escala é antigo. Dizia-se também nessa altura e um pouco ingenuamente, que as empresas deviam pensar globalmente e agir localmente, think global, act local.
Na realidade os tempos mudaram muito. As novas empresas globais com maior sucesso têm vindo a provar que há que mudar este paradigma e passar a think global, act global. É certo que foi a tecnologia digital que permitiu o act global, mas as coisas são o que são.
Voltemos à trilogia estratégia, inovação e escala. Em primeiro lugar, é importante ressalvar que a estratégia voltou a ser importante. Muitas empresas que desvalorizaram a estratégia nas últimas décadas, tiveram que voltar a colocá-la no topo das suas prioridades. A estratégia passou a ser essencial no processo de decisão e em particular, na gestão da inovação.
A última década mostrou empresas líder a caírem a pique porque tomaram más decisões estratégicas e de inovação. Decisões essas que no passado talvez não tivessem sido fatais, mas que nos nossos tempos o são. Há mercados onde um mero passo estratégico errado significa o fim da empresa. Na gestão de topo das empresas globais sabe-se que o mercado não dá mais segundas oportunidades.
Obviamente falamos de mercados abertos, em competição, e não em mercados protegidos ou em regime de rendas garantidas ou outro tipo de monopólios encobertos.
Nas empresas globais modernas, a estratégia está ligada à inovação e esta à procura de escala global. Houve, portanto, uma alteração do conceito de inovação empresarial nos últimos anos. A inovação estava no passado muito polarizada para o aumento de produtividade. A inovação dos processos, dos modelos de comercialização, do desenvolvimento dos novos serviços e produtos estava vocacionada para aumentos de produtividade. A palavra-chave era produtividade. Produtividade nas vendas, dos ativos, os famosos rotation factors e inclusivamente dos capitais investidos. A inovação gerava produtividade, esta gerava capital que seria parcialmente investido em mais inovação.
Simplesmente este ciclo, nos atuais mercados globais, não é o mais adequado. As empresas globais na liderança do seu mercado investem em inovação para ganhar escala, com a escala crescem mais rápido que o mercado, com o crescimento geram fluxos de capital que serão parcialmente investidos em inovação. Este novo ciclo de estratégia, inovação e escala é extremamente valorizado pelos mercados de capital, porque dá maiores garantias de crescimento futuro. Pode-se dizer que o mercado de capitais acaba por funcionar como um catalisador deste novo ciclo. As empresas tecnológicas na liderança das suas áreas perceberam esta nova lógica. Produtividade é bom, mas escala é melhor.
O curso em Inovação Estratégica fornece uma visão macro sobre a importância da inovação para o crescimento económico, tendências e comportamentos dos mercados e da sociedade em geral, abordando, também, modelos e sistemáticas de inovação e a utilização da tecnologia na transformação das empresas e organizações, em particular nos desafios da digitalização. Este curso conta com a coordenação de Joana Mendonça, Professora no Técnico e presidente do Conselho de Administração da ANI – Agência Nacional de Inovação, e de João Picoito, sócio fundador da P&A, membro do Conselho da Diáspora Portuguesa e Líder da Transição Digital na CCDR-LVT
João Picoito
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